Muitos jovens apresentam-se em consultório com queixas de uma vida pessoal solitária e isolada, com retraimento e empobrecimento afetivo-social, angústia, culpabilidade, desamparo, falta de vontade de viver e comportamentos irritadiços, autoagressivos e de automutilação, fatores esses que apontam para uma possível patologia e para dificuldades emocionais complexas. Nas redes sociais, eles têm um grande grupo de amigos virtuais e dedicam muito tempo à interação com desconhecidos. Essa clara dissociação entre a vida real enclausurada e a vida virtual ativa impõe questionar o papel das redes sociais como uma forma de defesa psicológica. Frente a isso, a partir do estudo do caso clínico de uma jovem que, no início da análise, tinha 16 anos, este livro propõe compreender essa dissociação e a possível relação do fenômeno com a psicopatologia depressiva, abrangendo o modo contraditório dos jovens de ter um existir depressivo, apático e isolado na vida real e de se manifestarem de maneira vitalizada, interativa e intensa nas redes sociais. Ao evitar contato com a solidão que seu adoecimento despertava, a paciente apresentou-se para tratamento incapaz de se manter sozinha e refletir sobre si mesma e, por não encontrar limites, fez uso patológico do mundo virtual, afastando-se da realidade compartilhada. A partir do processo analítico, ela passou a se conectar ao mundo cibernético dentro de sua necessidade, retornando ao mundo real sempre que se sentia fortalecida.